De tempos em tempos, todos nós temos episódios de raiva. O sentimento natural, no entanto, pode levar a danos crônicos para os vasos sanguíneos e abrir portas para problemas cardiovasculares, como ataque cardíaco e acidente vascular cerebral (AVC). Um novo estudo, publicado no periódico científico da Associação Americana do Coração (AHA, na sigla em inglês), conseguiu comprovar pela primeira a vez a relação entre quadros recorrentes de raiva e o comprometimento da capacidade de dilatação dos vasos sanguíneos por até 40 minutos após o momento explosivo. O achado pode ser mais um caminho para proteger o coração por meio de intervenções que deixem as pessoas mais tranquilas.

O ensaio, randomizado e controlado, contou com a participação de 280 voluntários de 18 e 73 anos da cidade de Nova York livres de doenças cardiovasculares e também de fatores de risco para a condição. Ou seja, nenhum deles fumava, tomava medicamentos nem tinha histórico de hipertensão ou diabetes. Não apresentavam obesidade nem diagnóstico de transtornos de humor.

Os cientistas fizeram medições para verificar alterações de fluxo sanguíneo nos vasos do braço dominante de cada participante. Em uma distribuição aleatória, pediram que grupos rememorassem sentimentos incômodos e um deles ficou com a parte de lidar com um estado emocional neutro.

Então, os voluntários da raiva e da ansiedade conversaram durante oito minutos sobre experiências que causaram esses sentimentos. Os participantes da tristeza leram em voz alta, por oito minutos, declarações que evocavam a emoção. E o grupo de controle, por sua vez, apenas contou números em voz alta por oito minutos. Era o time da emoção neutra.

Novas medições foram feitas 3, 40, 70 e 100 minutos após as tarefas. Entre os irritados, o comprometimento na abertura dos vasos sanguíneos teve significativa redução em relação ao grupo de controle por até 40 minutos depois de viver a recordação negativa, alteração que diminuiu posteriormente. Não foram notadas alterações entre os que atiçaram a ansiedade e a tristeza.

“Se você é uma pessoa que fica com raiva o tempo todo, você está tendo lesões crônicas em seus vasos sanguíneos”, disse, em comunicado, Daichi Shimbo, cardiologista do Centro Médico Irving da Universidade de Columbia, que liderou o estudo. “São essas lesões crônicas ao longo do tempo que podem eventualmente causar efeitos irreversíveis na saúde vascular e, eventualmente, aumentar o risco de doenças cardíacas.”

Raiva e o coração

Estudos observacionais já tinham dado pistas de que a raiva poderia ser maléfica para o coração. Pesquisas prévias sobre o funcionamento dos vasos sanguíneos apontam que, quando o mecanismo de dilatação é afetado, os pacientes podem desenvolver a aterosclerose, o perigoso acúmulo de gordura nos vasos sanguíneos associado às doenças cardiovasculares.

Segundo Shimbo, ainda é necessário realizar investigações mais aprofundadas, mas há sinais de que o sentimento de raiva pode desencadear alterações causadas pelos hormônios do estresse e o aumento de processos de inflamação arterial. O grupo planeja investigar esses mecanismos.

“O estudo também abre a porta para a promoção de intervenções de controle da raiva como uma forma de potencialmente ajudar a evitar doenças cardíacas, a principal causa de morte neste país”, afirmou, em nota, Laurie Friedman Donze, psicóloga do Instituto Nacional de Coração, Pulmões e Sangue, entidade que financiou a pesquisa.

Como controlar a raiva?

Diante dos resultados, a recomendação dos pesquisadores é de que as pessoas que se irritam com frequência busquem métodos para gerenciar a raiva. Exercícios, como ioga, e técnicas de respiração profunda podem ajudar, assim como a prática de terapia cognitivo-comportamental (TCC).

Então, fica a orientação: antes do próximo ataque de raiva, respire fundo, tente se acalmar e pense na saúde do seu coração.

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